A denúncia a respeito da possibilidade de fraude no concurso para 750 vagas de policial da Polícia Rodoviária Federal (PRF) já foi recebida  pelo Ministério Público Federal (MPF). O caso está sob a responsabilidade do procurador da República Carlos Alberto Bermond, que deve avaliar a documentação recebida (que inclui cartões de resposta e de informação de candidatos com a aprovação preliminar na prova objetiva sob suspeita) e decidir se será aberta uma investigação para apurar os fatos.

Na última sexta, 13, os documentos foram enviados ao procurador da República em Niterói Leonardo Costa, pelo juiz titular da 4ª vara federal do município, William Douglas. Na  segunda, dia 16, a documentação foi encaminhada à Procuradoria da República no Rio de Janeiro.

O MPF já havia recebido outras denúncias em relação ao concurso da PRF, durante a aplicação das provas, mas após as investigações, conduzidas pelo procurador da República Edson Abdon, o ministério concluiu que as situações apontadas em diversas representações encaminhadas por candidatos não motivavam a proposição de ação civil pública na Justiça.

No último dia 9, candidatos procuraram a FOLHA DIRIGIDA alertando para existência de irregularidades no resultado preliminar da prova objetiva do concurso. Segundo eles, aprovados nas primeiras colocações em diferentes estados, em especial no Rio de Janeiro, teriam realizado as provas em salas extras e em alguns casos apresentavem divergências em relação ao local de prova, além do preenchimento inadequado do cartão de resposta.

A PRF informou que a organizadora era quem deveria se manifestar sobre o episódio. A FunRio afirmou que já estava investigando o caso e que indícios de irregularidades tinham sido identificados. Juntamente com a publicação do resultado final da prova objetiva, na última quinta, 12, a organizadora anunciou a eliminação de 27 candidatos, entre eles, os 24 que tiveram a sua aprovação provisória questionada por outros participantes (19 do Rio de Janeiro, três de São Paulo e dois de Minas Gerais). De acordo com a FunRio, nos próximos dias será apresentado à PRF um relatório a respeito dos motivos das eliminações. A hipótese de vazamento do gabarito da prova foi descartada pela organizadora.

Para o presidente da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Ernani Pimentel, a medida não foi suficiente. “A eliminação de 27 candidatos não resolve o problema da lisura desse concurso e, a rigor, faz com que ele tenha que ser anulado”, afirmou, destacando ainda que a associação recebeu mais de uma centena de denúncias em relação a problemas em vários estágios da organização do concurso, que estão à disposição do MPF. (AB)


Candidatos apontam novas suspeitas

Após a divulgação do resultado final da prova objetiva, candidatos voltaram a questionar a lista de aprovados. Em diversos fóruns de discussão na internet, participantes chamaram a atenção para três candidatos do Paraná que constavam como faltosos no resultado preliminar da prova e aparecem como aprovados na listagem final.

Um outro candidato, também do Paraná, que pelo resultado provisório estaria eliminado por não obter a pontuação mínima exigida em Direito, no resultado final está relacionado entre os aprovados, com pontuação muito superior à registrada anteriormente na disciplina. “Em meio a tantas irregularidades, essa pode ser mair uma e deve ser investigada”, disse um candidato que não quis se identificar.

Os quatro candidatos tiveram recursos contra o resultado preliminar da prova objetiva deferidos pela organizadora. Para dois deles, foram aceitos pedidos de recursos referentes a duas inscrições distintas. As inscrições múltiplas tinham sido canceladas por orientação do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, sendo mantidas apenas para aqueles que obtivessem decisão judicial nesse sentido, sendo que após as provas o candidato deveria prosseguir apenas com uma delas, sendo eliminado por falta nas demais.

Procurada pela reportagem da FOLHA DIRIGIDA para esclarecer tais fatos, a FunRio informou por meio de sua Assessoria de Imprensa que “em relação ao concurso da PRF, não se manifestará de forma particularizada em cada caso”. A organizadora destacou também que o seu sistema anti-fraude já identificou e excluiu candidatos do concurso e que as informações estão sendo analisadas e serão foco de um relatório específico que será entregue aos órgãos competentes. De acordo com a FunRio, novos questionamentos por parte dos candidatos devem ser enviados diretamente para a sua central de atendimento, através de telefone ou e-mail, para que sejam tomadas as providências cabíveis. (AB)


No Rio, candidatos fazem manifestação

Cerca de 60 concursandos se reuniram na última segunda-feira, 16, na Cinelândia, em uma manifestação para pedir a anulação do concurso da PRF e a substituição da FunRio como organizadora da seleção. Os manifestantes fizeram uma passeata até o Ministério Público Federal (MPF) para entregar um dossiê com denúncias de fraudes. Eles alegam que houve vazamento de provas e gabaritos, além de má organização e falhas na fiscalização durante a aplicação dos exames, entre outros.

O protesto contou inclusive com pessoas que não estavam inscritas na seleção. Em um carro de som, os manifestantes protestaram e emitiram suas opiniões deram depoimentos sobre os problemas ocorridos no dia das provas. Segundo um dos organizadores do protesto, que não se indentificou, a intenção da passeata é chamar a atenção da população para o problema de fraudes em organização de concursos. “Não queremos que os próximos concursos percam a credibilidade. Caso o concurso da PRF não seja anulado, será uma injustiça com os candidatos que há anos se preparam para o ingresso na carreira pública”, destacou.

Alguns candidatos disseram que a própria PRF deveria interver e pedir a suspensão do concurso enquanto os fatos são apurados pela Justiça. “Ela seria uma das maiores prejudicadas com a entrada de servidores despreparados”, afirma um candidato. Uma comissão formada pelos organizadores da manifestação, após a passeata, entregou no Ministério Público Federal um dossiê ao procurador da República Carlos Alberto Bernardes. (SS)


Para alguns, concurso deve ser mantido

Alguns participantes  que procuraram a FOLHA DIRIGIDA disseram que confiam na apuração da FunRio e do MPF para sanar possíveis irregularidades. De acordo com um deles, que pediu para não ser identificado, o melhor caminho a ser tomado não passa pela anulação da prova, mas pela investigação da organizadora e do MPF no sentido de detectar todos os problemas. “Não tenho dúvidas de que as instituições estão focadas no caso, já que a banca tomou a atitude correta, excluindo possíveis fraudadores, e o MPF é responsável por cuidar dos interesses coletivos”, afirmou, completando que denunciou no órgão a tentativa de tumulto organizado por um grupo de concorrentes no dia da prova.

Embora considere que alguns argumentos favoráveis à anulação possam ser consistentes, o concursando frisou que a análise deve ser feita exclusivamente pelos órgãos responsáveis. Para o candidato Rodrigo Passos Fiães, que também defende a investigação para resguardar a transparência do concurso, mas não a anulaçao da seleção, muitos concorrentes estão aproveitando possíveis erros administrativos para pedir o cancelamento da seleção. “Acho que a FunRio não é tão organizada, deixando possíveis brechas. Alguns candidatos reprovados estão se aproveitando desse fator”, ressaltou.

Os dois concursandos favoráveis ao prosseguimento do concurso e ao aprofundamento das investigações declararam, ainda, que não acreditam que outros possíveis fraudadores não sejam eliminados do concurso, fato que, se ocorresse, arranharia a lisura do certame. (BMB)

Fonte: Folha Dirigida

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