A Curaçao escreveu seu nome na história do futebol mundial na noite de 18 de novembro de 2025. Em um Independence Park, em Kingston, lotado e silencioso, a seleção caribenha segurou um empate por 0 a 0 contra a Jamaica — e, com isso, garantiu sua primeira classificação para uma Copa do Mundo da FIFAEstados Unidos, Canadá e México. Com apenas 156 mil habitantes e 444 km² de território, Curaçao tornou-se o menor país da história a conquistar uma vaga direta no Mundial. Um feito que parecia impossível, mas que se tornou realidade com uma campanha invicta: três vitórias, três empates, 12 pontos e um saldo de gols de +10 no Grupo B das Eliminatórias da Concacaf.
Uma noite de pressão e quase gols
A partida foi um drama contínuo. A Jamaica, que precisava vencer para garantir a classificação direta, dominou o jogo, mas não conseguiu converter chances claras. Três vezes a trave salvou o goleiro Eloy Room. O primeiro foi aos 9 minutos do segundo tempo, quando Greg Leigh cabeceou com força — o poste direito respondeu com um som seco. Aos 25 minutos, Shamar Nicholson tentou de primeira, e o travessão vibrou. Uma terceira finalização, não identificada com precisão, também foi desviada ou se perdeu na trave. O público jamaicano, que esperava comemorar, ficou em silêncio. O goleiro de Curaçao, um herói silencioso, não precisou fazer grandes defesas — apenas manter a calma.No outro lado, Curaçao jogou com inteligência e disciplina. Leandro Bacuna assustou aos 16 minutos do primeiro tempo, chutando de longe e obrigando o goleiro jamaicano a saltar. Jürgen Locadia, veterano e líder, quase marcou com um chute de fora da área aos 22 minutos. O último lance de perigo veio aos 90+10 minutos, quando Jeremy Antonisse tentou de pé esquerdo, mas errou o alvo por centímetros. O jogo terminou com uma expulsão — o tipo de momento que poderia ter mudado tudo. Mas não mudou. A defesa de Curaçao, organizada e corajosa, resistiu.
Um país que não existia no mapa do futebol
Até 2015, Curaçao era praticamente ignorada nas eliminatórias da Concacaf. Suas vitórias eram raras, seus jogadores jogavam em ligas menores da Europa e da América do Sul. Hoje, é a quinta seleção caribenha a chegar a uma Copa do Mundo — depois de Cuba, Haiti, Jamaica e Trinidad e Tobago. E é a primeira vez que um país com menos de 200 mil habitantes alcança esse patamar. A conquista é ainda mais surpreendente quando se leva em conta que a equipe não tem um campeonato nacional profissional. Muitos jogadores atuam na Holanda, na Bélgica, até na Noruega. Eles são, na maioria, filhos de imigrantes, criados em clubes de base europeus, mas escolheram representar a ilha onde seus avós nasceram.A seleção foi treinada por Dwight Quintero, um ex-jogador que voltou da Europa para assumir o cargo em 2023. Ele implantou um sistema defensivo compacto, com transições rápidas. Nada de jogadores de luxo. Mas sim de garra, identidade e orgulho. "Nós não temos estádios cheios, nem patrocinadores milionários", disse Quintero após o jogo. "Mas temos um sonho que vale mais que qualquer contrato."
Outras classificações históricas na mesma noite
Enquanto Curaçao celebrava, outros dois países também garantiram vaga direta. O Haiti, comandado pelo técnico francês Sébastien Migne, venceu a Nicarágua por 2 a 0, com gols de Don Deedson e Ruben Providence. Foi a primeira vez que o Haiti voltava à Copa do Mundo desde 1974 — 52 anos de espera. Já o Panamá bateu El Salvador por 3 a 0, com gols de José Luis Rodríguez, Éric Davis e César Blackman. O time panamenho, que estreou em 2018, retornou ao Mundial com uma equipe mais madura e confiante.Do outro lado, a Jamaica e o Suriname caíram na repescagem intercontinental, que acontecerá em março de 2026. A Jamaica terminou com 11 pontos, um a menos que Curaçao. O Suriname, derrotado por 3 a 1 pela Guatemala, terminou com 9 pontos — suficiente para a repescagem, mas não para a classificação direta.
O que vem agora?
Curaçao entrará no Mundial de 2026 como a 51ª nação a disputar a competição. Ainda não se sabe em qual grupo será sorteada, mas a expectativa é de que enfrente seleções como EUA, Canadá ou até uma potência da Ásia. O time não tem estrelas globais, mas tem um espírito que não se mede em salários. E isso pode surpreender. O técnico Quintero já afirmou: "Não vamos ir para jogar. Vamos ir para mostrar que o futebol não é só sobre dinheiro. É sobre coragem."Frequently Asked Questions
Como Curaçao conseguiu se classificar com apenas 156 mil habitantes?
Curaçao se classificou graças a uma combinação de disciplina tática, identidade nacional e um sistema de seleção que prioriza jogadores de origem caribenha, mesmo que atuem na Europa. O técnico Dwight Quintero montou uma equipe coesa, com foco em defesa e contra-ataques. Além disso, a equipe não sofreu nenhuma derrota nas seis partidas, somando 12 pontos — um recorde para um país tão pequeno.
Quem é Eloy Room e por que ele foi tão importante?
Eloy Room é o goleiro titular de Curaçao e um dos jogadores mais experientes da equipe. Natural da ilha, atua no PSV Eindhoven, na Holanda, e já jogou na Seleção Neerlandesa sub-21. Ele foi fundamental na vitória sobre a Jamaica, fazendo defesas decisivas e mantendo a calma sob pressão. Suas três intervenções em bolas na trave foram o ponto-chave para manter o placar em 0 a 0.
Por que a Jamaica não se classificou, mesmo com uma campanha forte?
A Jamaica terminou com 11 pontos, um a menos que Curaçao, e perdeu a liderança do Grupo B por causa de um empate em casa contra a Bermuda e uma derrota para o Suriname. Apesar de ter vencido três jogos, sua inconsistência nos confrontos diretos e a falta de eficiência ofensiva — especialmente contra times defensivos — foram decisivas. Três bolas na trave na partida final não foram suficientes.
O que significa a classificação de Curaçao para o futebol caribenho?
A classificação de Curaçao reescreve o mapa do futebol caribenho. Antes, só Haiti, Jamaica, Cuba e Trinidad e Tobago haviam chegado a uma Copa. Agora, Curaçao prova que mesmo os menores países podem sonhar alto. Isso pode inspirar outras ilhas, como Aruba ou Sint Maarten, a investir mais em infraestrutura e seleções juvenis, mudando a dinâmica da Concacaf.
Quais são os próximos passos de Curaçao antes da Copa de 2026?
A federação já anunciou um calendário de amistosos contra seleções da Europa e da América do Sul para preparar o elenco. Também planeja aumentar o investimento em categorias de base e criar um centro de treinamento permanente na ilha. O objetivo é manter o nível e, quem sabe, surpreender no Mundial — como fez a Islândia em 2018.