Quando Greta Thunberg, ativista climática sueca, juntou‑se a Thiago Ávila, coordenador da Flotilha Global Sumud, partiu de Barcelona em 31 de agosto de 2025 com mais de 500 ativistas a bordo, Israel interceptou a frota em 2 de outubro, detendo mais de 400 pessoas de 40 nacionalidades diferentes. A ação militar, conduzida pelas Forças Armadas Israel, desencadeou uma onda de protestos sem precedentes, colocando a questão humanitária da Faixa de Gaza (Gaza) no centro do debate internacional.
Antecedentes e motivação da Flotilha
A iniciativa nasceu da necessidade de levar ajuda humanitária — alimentos, medicamentos e equipamentos de primeiros socorros — a uma população assolada por quase um ano de bloqueio. Organizações da sociedade civil, entre elas o Movimento Esquerda Socialista (MES), enviaram 15 brasileiros, entre eles Mariana, Gabi e Nico, além da deputada Luziane Lins. A estratégia era simples: partir de portos europeus, contornar a zona de exclusão marítima e entregar a carga diretamente às autoridades palestinas.
O plano contava ainda com apoio diplomático de alguns países europeus. Itália e Espanha mobilizaram navios de guerra para possíveis resgates, porém retiraram‑se quando a flotilha estava a menos de 300 km da costa de Gaza. Na véspera da intercepção, governos italiano e grego enviaram notas ao governo israelense pedindo que os ativistas não fossem alvejados e sugerindo que a Igreja Católica fosse a intermediária na entrega da ajuda. A proposta, no entanto, foi recusada pelos organizadores, que temiam que a ajuda fosse desviada.
Intercepção e detenção
Na madrugada de 2 de outubro, patrulhas navais israelenses abordaram a frota ao avistar os primeiros barcos se aproximando da zona restrita. Os confrontos foram breves, mas o número de detidos — cerca de 420 pessoas — surpreendeu até os analistas militares. Entre os presos estavam não só figuras públicas como Thunberg e Ávila, mas também cidadãos de países como Portugal, Argélia, Filipinas e México. Até o momento, o estado de quatro portugueses permanece desconhecido, alimentando temores de abusos ou detenções prolongadas.
As autoridades israelenses alegaram que a ação visa impedir “atividades que possam ser interpretadas como apoio ao terrorismo”. Ainda assim, organizações de direitos humanos denunciaram a medida como violação do direito internacional humanitário. A imprensa local capturou imagens de navios de segurança férteis, enquanto equipes de resgate tentavam acessar os sobreviventes em vãos de mar agitados.
Reações e protestos globais
Logo após a divulgação das detenções, as ruas ao redor do mundo se encheram de vozes. Na Itália, sindicatos organizaram a maior greve geral das últimas décadas: mais de um milhão de trabalhadores pararam tudo, de fábricas a escolas, em solidariedade à flotilha. Em Lisboa, mais de mil manifestantes se aglomeraram diante da embaixada de Israel às 18h, brandindo bandeiras palestinas e lenços keffiyeh. No Porto, a Praça D. João I foi tomada por uma multidão que bloqueou o trânsito por horas; em Coimbra, cerca de 300 pessoas marcharam pelas ruas históricas da cidade.
No Brasil, as capitais do Rio de Janeiro e Porto Alegre foram palco de protestos que pediam a repatriação imediata dos brasileiros detidos. Estudantes, trabalhadores informais e membros do MES se juntaram em demandas que ecoavam o mesmo refrão: "Liberdade para a flotilha" e "Sanções para Israel". No Reino Unido, Argentina e diversos países da África e Ásia, manifestações semelhantes se espalharam, com cartazes que misturavam slogans de paz e críticas ao "genocídio" na Faixa de Gaza.
Um ponto alto da mobilização aconteceu em São Paulo, onde mais de 5 mil pessoas reuniram-se em frente ao consulado de Israel, cantando canções de resistência. No mesmo dia, veículos de imprensa noticiaram a partida de uma nova flotilha, a chamada Coalizão da Flotilha da Liberdade (FFC), composta por dez embarcações que zarparam de Catânia, Sicília, em 27 de setembro.
Impactos políticos e humanitários
As consequências imediatas são duplas. Primeiro, a pressão internacional sobre Israel aumentou, com críticos apontando que a detenção pode gerar sanções econômicas e isolar diplomaticamente o país. Segundo, a ajuda humanitária que deveria chegar a Gaza ficou retida no mar, ampliando a crise de escassez de alimentos e medicamentos. Analistas de política externa da Universidade de Lisboa alertam que o episódio pode "reconfigurar alianças" na região, especialmente se países como a Turquia ou o Irã decidirem intervir de forma mais ativa.
Além disso, o episódio reacendeu o debate sobre a legitimidade das ações de ativismo marítimo. Enquanto alguns veem a flotilha como um ato de solidariedade legítimo, outros argumentam que a iniciativa pode ser usada como fachada para fins políticos. A presença de figuras públicas como Thunberg e Luziane Lins confere ainda mais atenção midiática, mas também coloca em risco a segurança desses indivíduos.
Próximos passos e desdobramentos
Para o futuro, um grande ato está agendado para 5 de outubro, às 11h, no MASP, em São Paulo, reunindo artistas, políticos e sociedade civil em um protesto contra o que chamam de "genocídio palestino". Enquanto isso, os advogados dos ativistas brasileiros iniciam processos de habeas corpus nas cortes de Tel Aviv e da Corte Internacional de Justiça, buscando a libertação dos detidos.
Nos bastidores, governos europeus mantêm canais de negociação discretos com Israel, tentando garantir a liberação dos cidadãos europeus sem comprometer a segurança nacional. A expectativa é que, nos próximos dias, surgam propostas de troca de prisioneiros ou de permissão para a entrega da ajuda por meio de canais terrestres controlados por organizações humanitárias reconhecidas.
O que está claro é que a detenção da Flotilha Global Sumud não será um evento isolado. Ela alimenta uma dinâmica de protestos que, como as marés, podem subir rapidamente, arrastando na esteira questões de direito internacional, segurança marítima e solidariedade global.
Perguntas Frequentes
Como a detenção afeta os brasileiros que estavam na flotilha?
Os quinze brasileiros, entre eles membros do MES e a deputada Luziane Lins, permanecem sob custódia israelense. Advogados alegam violação de direitos consulares e preparam pedidos de habeas corpus. Enquanto não houver decisão judicial, eles enfrentam restrição de liberdade e possíveis acusações de apoio ao terrorismo.
Qual foi o papel da Itália e da Espanha na operação?
Ambos os países enviaram navios de guerra como apoio humanitário, mas retiraram‑se quando a flotilha se aproximava de Gaza. Eles também enviaram notas diplomáticas pedindo que Israel não atacasse a embarcação, simultaneamente sugerindo que a Igreja Católica fosse mediadora da entrega de ajuda.
O que a nova Flotilha da Liberdade pretende fazer?
Compuesta por cerca de dez embarcações, a FFC saiu de Catânia em 27 de setembro com o objetivo de levar alimentos e remédios a Gaza, contornando a zona de exclusão. A iniciativa busca demonstrar que a pressão internacional pode garantir corredores humanitários, apesar dos riscos de nova intercepção.
Quais são as possíveis consequências para Israel?
A comunidade internacional pode intensificar sanções econômicas e diplomáticas. Além disso, o incidente pode afetar acordos de cooperação militar e aumentar a pressão de organizações de direitos humanos que já criticam a política de bloqueio da Faixa de Gaza.
Por que o protesto no MASP é importante?
Programado para 5 de outubro, o ato no MASP reunirá milhares de pessoas, reforçando a mobilização global contra o conflito em Gaza. Ele também serve como palco para líderes civis e políticos apresentarem propostas de solução e pressionarem governos a agir.